terça-feira, 19 de janeiro de 2010

É possível morrer. Laura pensa, de súbito, como ela - como qualquer pessoa - pode fazer uma escolha dessas. É um pensamento impulsivo, vertiginoso, um pouco imaterial - anuncia-se dentro da sua cabeça, leve mas distintamente, como uma voz crepitante de uma longínqua estação de rádio. Ela podia decidir morrer. É uma tremeluzente ideia abstracta, não particularmente mórbida. É em quartos de hotel que as pessoas fazem coisas dessas, não é? É possível - talvez até provável - que alguém tenha posto fim à vida aqui, neste quarto, nesta cama. Alguém disse: «Basta, não quero mais»; alguém olhou pela última vez para estas paredes brancas, este liso tecto branco. Ao ir para um hotel, ela percebe-o, deixamos para trás as particularidades da nossa própria vida e entramos numa zona neutra, num limpo quarto branco, onde morrer não parece uma coisa assim tão estranha.

The Hours

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